Belo Monte de Violências (IX)

A violência do governo em construir Belo Monte a qualquer custo não atinge apenas os povos indígenas do Xingu, os não-indígenas e o meio ambiente. Atinge o bolso de todo o contribuinte brasileiro, cada um de nós. Isso porque os últimos cálculos demonstram que ela custará mais de 3/4 do que custou Itaipu com a produção de energia de apenas 1/4 desta.

Não existe geração de energia sem impactos, mas o custo dos impactos das hidrelétricas na Amazônia são tão fortes que elas não podem ser consideradas nem limpas nem baratas.

Célio Bermann, professor da USP, disse isso ao Presidente Lula na reunião que tivemos em 2009. Era o resultado de um encontro do bispo do Xingu, dom Erwin Krautler, com o presidente meses entes. O bispo disse ao presidente que este estava sendo enganado por sua assessoria, que Belo Monte era um desastre, e que podia provar isso.

No dia 22 de julho de 2009, o presidente Lula recebeu lideranças indígenas e sociais, representantes da comunidade cientifica e do MPF (Ministério Público Federal). Todos falamos. Mostramos a inviabilidade social, ambiental e econômica da obra, com relatos, slides e cálculos.

Ao final, o presidente deu a palavra de que o governo não enfiaria Belo Monte goela abaixo. Desde a reunião, o comportamento tem sido o oposto. Os representantes do setor de energia do governo se recusaram a participar da audiência pública organizada pelo MPF para tratar do tema ainda em 2009. Fizeram o mesmo nas Comissões de Direitos Humanos da Câmara e do Senado.

Notícias mostram que o governo tem pressionado o Ibama a aprovar uma Licença de Instalação "parcial", algo que não existe na legislação ambiental brasileira. É a tentativa de tornar o empreendimento um "fato consumado". E o que é pior: com algo em torno de R$ 25 bilhões de dinheiro público, emprestado a juros subsidiados por nós - e esse nem é todo o custo da obra. Alguém vai sair ganhando, mas não será nem a sociedade brasileira, nem tampouco o povo do Xingu.

No caso de Belo Monte, há um custo ambiental extra que não foi quantificado: a decomposição da floresta inundada pelo reservatório de mais de 500 km2 vai liberar, quando a água passar pelas turbinas, enormes quantidades de metano – gás do efeito estufa que é 25 vezes mais poderoso do que o gás carbônico.

Os burocratas do setor elétrico são essencialmente barragistas. Enxergam geração de energia quase que exclusivamente vinda da água, tanto que a hidroeletricidade domina a geração de energia elétrica no Brasil. Ela é responsável por mais de 70% do total gerado hoje.

Os burocratas descartam oportunidades de promover a eficiência energética – tão em moda na Europa e na Califórnia –, a repotenciação das turbinas antigas ainda em operação, a troca das linhas de transmissão, a promoção de fontes alternativas de energia. Nada que traga o novo é considerado.

Espera-se, parafraseando o moleiro de Sans-Souci, que ainda se possa dizer que há juízes no Brasil, e que uma das 9 ações judiciais propostas pelo MPF mude o curso do sombrio vento que sopra do Planalto Central para a Amazônia. Tudo para que os artigos desta série não sejam a crônica da morte anunciada do sagrado rio Xingu.

Um comentário:

  1. Pesquisadores como o Dr. Philip Fearnside, pesquisador do INPA, mensuraram o nível de emissão de metano dessa UHE de Belo Monte e conclui que as emissões são expressivas, apesar das premissas de cálculo serem subdimensionadas. Uma usina desse porte no Rio Xingu não tem nenhuma sustentabilidade ao longo do tempo, e não pode ser considerada uma fonte não poluente pela emissão de GEE.

    Saudações

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